quarta-feira, 11 de março de 2009

O papo agora é "racional" com Sérgio Pererê


O cantor, compositor e percussionista Sérgio Pererê é Integrante do Tambolelê, grupo que possui dois álbuns gravados e diversas participações ao lado de artistas como Milton Nascimento e Maurício Tizumba. Dono de uma voz com características marcantes, Pererê é reconhecidamente um dos mais importantes músicos do estado. Trocamos uma idéia bacana com ele sobre o Tim Maia Racional e até questões políticas surgiram na conversa. Confira abaixo.


Qual foi o seu primeiro contato com os discos da fase “racional” do Tim Maia?
Foi há uns vinte anos atrás, quando conheci algumas pessoas da cultura racional. Eram fãs de black music e do Tim Maia, talvez até pelo fato de ele ter feito dois discos voltados para a crença deles.


E qual foi a sua primeira impressão em relação àquele trabalho?
Achei a música muito poderosa, principalmente porque ele usou a arte pra expressar uma verdade pessoal. Quando ele se vale da arte pra dizer algo em que acredita isso por si só torna a obra louvável. Ele se baseou em coisas pessoais para compor aquelas músicas, como quando ele diz “já senti saudade,já fiz muita coisa errada” são experiências pessoais, entende? É como funcionam as letras do John Lennon, por exemplo. São muito verdadeiras, e essa verdade pessoal é o que as torna universais, assim como estas músicas do Tim Maia.

O trabalho do Tim influenciou você enquanto cantor?
Com certeza. Como cantor negro é impossível negar a presença do Tim Maia. Ele possuía uma extensão vocal fantástica, uma grande capacidade de improvisar nas mais diversas situações. De certa forma o Tim Maia é o grande mestre de cerimônia da música brasileira.

Você participou do último Tributo ao Racional Tim Maia, como rolou o convite?
Eu já havia visto o Black Sonora, conhecia alguns deles, como o Yuga por exemplo. Desde o início gostava muito do trabalho e estava interessado em fazer algum trabalho com os caras. Lembro que uma vez, eu estava indo pra Espanha, havia acabado de assistir ao show da banda e pedi o cd para que eu pudesse levar e contribuir de alguma forma. Algum tempo depois rolou o convite para participar do Tributo, e eles tiveram muita paciência comigo porque eu estava com outras músicas na cabeça (risos), mas deu tudo certo no final.

Há uma revalorização da música negra brasileira da década de 70, por parte do público jovem. Como você avalia isso?
É necessário voltar lá atrás pra analisar a importância disto. Nos anos 70 surgiram ícones negros como Cassiano, Toni Tornado e que traziam essa questão do “orgulho em ser negro” num país como o nosso, que é preconceituoso e tem dificuldades em lidar com isto. Nos anos 80 este pessoal desapareceu, só o Tim Maia permanecia, e aí ficou um hiato. Anos depois existe essa revalorização, mas ela não veio sozinha, veio com uma mudança de comportamento. Não tenho dificuldades em falar da questão étnica porque sou muito tranquilo em relação a isso, mas o fato é que ser negro no Brasil continua difícil, mas é mais fácil do que foi há anos atrás, quando você se olhava no espelho e tinha certeza que a sua aparência era errada, isso acontecia muito, principalmente com as garotas. Então hoje você escuta “o negro é lindo”, considero isso um avanço, mas é pouco, já que as pessoas estão preocupadas apenas com a estética. A coisa é mais importante do que dizer “a gente é lindo”, vai além disto, é uma questão de identidade. Fazer um tributo ao Tim Maia é fazer homenagem à alguém que era antenado nisso tudo, e tem uma simbologia importante já que em outros tempos festas assim não seriam vistas com bons olhos, por uma questão meramente cultural.

Um comentário:

Unknown disse...

Salve Pererê! Sua participação foi uma maravilha...e é sempre bem vinda. Valeu!