Por Roger Deff
Não é exagero nenhum dizer que este é um dos trabalhos mais influentes da música brasileira, claro que a obra do saudoso Tim não se resume a apenas isso, mas trata-se de uma fase singular e musicalmente genial do síndico. Os discos (são dois volumes) foram lançados respectivamente em 1975 e 1976 pelo selo “Seroma” (abreviação de Sebastião Rodrigues Maia). Como os trabalhos foram lançados de forma independente, o próprio Tim Maia e os músicos da banda saíam com os discos debaixo do braço, de porta em porta e de loja em loja (coisa comum hoje em dia pra um monte de artistas).
Estes álbuns foram produzidos quando o músico esteve ligado à seita “universo em desencanto” (se é que podemos chamar de seita), que prega a idéia de que a origem da humanidade está nas estrelas, ou algo assim. Enfim, toda a temática do trabalho gira em torno desta crença e do livro, “leia o livro, read the book” é a frase mais presente nas músicas dos dois LPs. Mas o importante mesmo é a musicalidade, a mensagem fica em segundo plano.
Não demorou muito e Tim, literalmente, se “desencantou” com o universo em desencanto (desculpem o trocadilho infame) quando se sentiu enganado pela seita. Reza a lenda que o músico recolheu o maior número possível de discos e destruiu, tamanha foi a sua decepção com a história. Daí pra frente Tim voltou às suas composições habituais e nunca mais quis tocar no assunto.
Os discos viraram raridade, sendo cultuados tanto aqui quanto na Europa. Como Tim Maia, detentor dos direitos, nunca liberou um relançamento e após sua morte a coisa ficou com seus herdeiros, muita gente só ouvia falar do trabalho, sem jamais ter escutado de verdade uma única música destes álbuns que já eram verdadeiros mitos. No final dos anos 90 era possível ter cópias em CDR desde que você tivesse um amigo com boa vontade pra disponibilizar o material.
Para a maioria das pessoas o acesso à obra veio de forma indireta. Em 1997 Marcelo D2 lançou o primeiro cd solo e no trabalho trazia samplers da música “Rational Culture” além de mencionar os discos em “O império contra-ataca”.
“Que beleza” foi ouvida por muita gente na voz de Frejat, líder do Barão Vermelho, som que também foi interpretado por Marisa Monte. A romântica “Ela partiu” serviu de base para outro clássico, a música “O homem na estrada” do Racionais Mcs.
Foi só em 2006 que a Trama finalmente relançou o primeiro volume em CD, com chiado de vinil e tudo, além de um disco de remixes com participações especiais de Rappin Hood, Max de Castro, Bossa Cuca Nova e Parteum, entre outros. Em Belo Horizonte a coisa se massificou com os eventos do Tributo ao Tim Maia Racional, mas isso a gente conta como começou nos próximos bate-papos, por ora basta frizar o quanto a influência do síndico permanece presente em nossa música. You gotta be rational!
Roger Deff é jornalista, vocal do
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